sábado, 20 de agosto de 2011

Woman


Tem músicas que não tem como lembrar situações inesquecíveis.

Ele era bem popular no ambiente que frequentávamos, tinha algumas manias pitorescas, muitos amigos, filho de gente famosa, enfim, o cara querido por todos, porém com uma fama de beberrão.

Eu estava no bar de costume, fazendo a farra de costume, com as pessoas de costume, a música de costume, tudo como sempre de costume. Ele, completamente fora do costume, nesse dia não bebeu, dizia que estava triste demais pois tinha levado uma ré de uma moça esquisita.

Conversamos muito durante toda a noite. Quando anunciei que já era hora de ir embora, automaticamente, ele disse que me levaria em casa, aceitei de bom grado a carona. Paramos num posto de gasolina para lanchar quando ele, bruscamente, me beija. Foi simplesmente lindo e desingonçado. Ficamos sentados em um batente, jogando conversa fora, só que com mais coisa pra fazer. Do nada, assim, como se não fosse possível e aquilo fosse a coisa mais inédita do mundo, o dia começou a nascer. Ele me puxou para o carro e fomos para a beira mar ver o espetáculo da natureza, que, diga-se de passagem, tava bem interessante. Dia lindo um dos mais perfeitos que já vi. O sol estava quente e já era hora de voltar, aliás, já tinha passado.

Na volta, prestes a pegar a reta do Cais José Estelita, uma música começa a tocar no carro. Ele aumenta o volume e começa a cantar. Estávamos tão felizes, mas tão felizes que ele, dirigindo, colocava a cabeça pra fora do carro e gritava e eu saia, pelo teto solar, sentia o vento no rosto, o calor e era invadida por uma sensação de liberdade que só aquele momento podia proporcionar.

Rimos muito e nos beijamos ao chegar na frente do meu prédio.

Na semana seguinte, como de costume, nos encontramos no lugar de costume, ele bebeu muito, como de costume e me cumprimentou de maneira bem distante e formal. No momento, não entendi aquele distanciamento praticado por ele, depois o questionei, sem sucesso e só pude respeitar..

Hoje, depois do emprego de tanta formalidade, não sei nem se ele lembra do meu nome.

Conclusão: existe gente que se assusta quando a felicidade aparece.

Ah! A música é Woman - Jonh Lennon

1 comentários:

Tacyana Viard disse...

Arrasou, Elcica! #orgulhinho

1 de setembro de 2011 às 13:06
 

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