Em um bisaco distante....


Eles pouco se conheciam. Tinham apenas uma amiga em comum e olhares, muitos olhares profundos, ricos em pureza e sentimento. Ele, tinha namorada e era fiel e ela, acabara de sair de um relacionamento de anos e, naquele momento, pouco tinha interesse em algo novo. Viam-se apenas na faculdade, entre um intervalo e outro, uma aula e outra, nada programado ou muito menos marcado.

Havia naqueles dois, algo que só o cosmos é capaz de explicar. Em um certo dia nublado e sem graça, a amiga chamou-a para sair, ela aceitou. Chegando ao lugar, que era feio, cheio de gente esquisita, não achou graça em nada que vira e logo começou a chamar pra ir embora. Já impaciente, levanta-se e para a sua surpresa, encontrou aquele olhar. Ele, surpreso, pela primeira vez sorriu. Ela, retribuiu. Ambos permaneceram nos seus guetos mais calmos e confiantes.

No lugar, tocava uma música estilo rock psicodélico, e esse estilo de música não agradava a nenhum dos dois, mas a presença de um, mesmo que distante do outro, agradava e os faziam permanecer firmes, na certeza de que algo ainda estava por vir. De repente, começou a chover, e todos do lugar foram obrigados a se abrigar na parte coberta. Eles, ambos piscianos, não tinham pressa, caminhavam lentamente. Era como se o mundo começasse a parar e eles iam ficando para trás. A chuva aumentava quando num passe de mágica, aquela música louca parou e começou a tocar uma linda música lenta.

Só de olhar, eles muito se conheciam e ali, no meio da rua, se abraçaram e começaram a dançar. A chuva aumentava, mas, eles não notaram nada e lá continuaram abraçados. Ela com a cabeça recostada no peito dele e ele com a mão na sua nuca e sentindo o seu perfume que se misturava com o chão molhado.

Estiou e voltaram para os seus lugares de origem. Chegou o momento de voltar e, em companhia da amiga, ela seguiu. A caminho para o carro, ela sentiu que algo segurava o seu braço. Era ele. Era ele que pediu que ela fosse com ele. Era a primeira vez que havia vozes entre eles. Ela foi. Caminharam para o carro. Tudo a postos, é hora de voltar. Ele liga o som do carro e, para a surpresa de ambos, mesmo antes dele perguntar pra onde iria, notam que a música que ali tocava era a mesma da chuva, a mesma que antes, haviam dançado.

Aqueles olhares firmes que antes existiam foram se inundando por lágrimas que, para dois piscianos, foi impossível de segurar. Choraram abraçados. Ele passava as mãos pelo cabelo dela e ela alisava seu rosto e sua barba por fazer. Ao fim da música, choraram de rir.

Ele ouviu a voz dela a primeira vez quando indicou o caminho da sua casa. No trajeto, apenas, de maneira feliz, entoaram músicas de muitos estilos. Os dois agora se ouviam. Ao chegar no destino, ela, envergonhada, agradeceu e ele deu-lhe um beijo na mão. Foram embora.

No outro dia, o pior aconteceu. Ele sofreu um assalto e nessa situação perdeu sua vida. Hoje, ela, que guarda na sua alma esse momento, tenta escrever essa crônica, mas, com lágrimas nos olhos não consegue finalizar, mas, como é botar um ponto final se amor não se finaliza? 

Read More
 

©2009Erika Valença | by TNB