O Compromisso


Parte I - a tímida


Eu tinha uns poucos anos de idade e começava a dar os primeiros suspiros de paixonite por um menino da minha classe. Ele era o mais bonito, o mais bem cuidado, o mais tudo. Eu era apagadinha e quieta quando o assunto era coisas do coração. Enquanto pra mim, tudo ficava no mundo da lua, nas minhas divagações e nos meus sonhos, minhas colegas e ele brincavam, em todo recreio, de “pêra, uva, maçã”. Eu, que era temerosa, mas não queria deixar de brincar, sempre optava por pêra, que equivalia a um insosso aperto de mão. Era tão tímida que nem ao menino que eu era apaixonada, pedia o aperto de mão. Nem o olhava, ia direito a um amigo que já sabia e vinha apertar minha mão com cara de desdém. A “beijação” dele com as minhas amigas rolava solta e eu, como boa pisciana, sonhava com o dia que eu diria a ele maçã. Nunca aconteceu.


Parte II - o pedido

Um belo dia, quando fui deixar a mochila na sala de aula e seguir para a forma, para minha surpresa ele estava lá, sozinho e sentado na minha banca. Que susto! Engoli seco, tremi a ponto de ter um treco. A vontade de ter um xilique era tanta, que de zonza trobei nas demais bancas, já desfazendo a arrumação da sala. Ele estava me esperando? O que era aquilo?

- Bom dia!

Eu, gaga mais que tudo:

-bo-bo-bom di-i-a

- você quer namorar comigo?

-ãh?

-é é é isso, na-na-morar comigo - ele estava meio nervoso também.

Eu:

- não po-o-osso.

Só me vinha a cabeça meu pai e minha mãe e se eles coubessem que eu estava com um namorado? As freiras do colégio iam contar tudo. Eu ia ter que beijar? E como era namorar? E o que eu ia fazer, além de tremer, de sentir o rosto sem sangue?

- é, é não posso.

- como não pode?

E agora?, eu pensava. Tudo que eu justificasse verdadeiramente soaria como “mico”. Foi quando soltei:

- é é que eu sou coommm-com-com-prometida.

Não sei de onde eu tirei aquela mentira. Mas na hora saiu.

Fui para a forma, deixando meu grande amor para trás e levando comigo uma frustração no coração temeroso e partido.


Parte III - a descoberta

Ele sentava na minha fila que eu e o dia correu cheio de olhares. Fui ao recreio e lá descobri que ele tinha feito isso com 4 outras meninas, duas delas, minhas melhores amigas. A ideia dele era ter uma namorada para cada dia da semana, ou seja, cinco namoradas.



Parte IV - a insistência

À tarde, fui jogar ping-pong na casa de uma das amigas, namorada dele, quando de repente, ele chegou lá. Eu, que já não sabia jogar e sempre era café com leite, errei mais ainda. Quando trocou o time, ele me abordou:

-Erika, é que hoje... hummm. Eu quero namorar com você.

-é-é-é, mas é a-a-aquilo que eu falei.

- e quem é?

- ãh?

-Quero saber quem é? Pra ir acertar umas contas.

Engoli seco:

- você não conhece. Ele é do XV.

- do XV?

chegou a vez dele ir jogar e assim foi.



Parte V - Força Bruta

No outro dia, lá vou eu deixar minha mochila, como de costume, quando entro na sala, sou agarrada por ele que veio me beijar. Eu, educadamente pedi licença e segui pra minha banca. Deixei minha bolsa e passei reto por ele. Assustada, segui para a forma.



Parte VI - O que será o amor?

Durante a aula de português, recebo uma borracha e nela grafado: “quer namorar comigo? Responde na borracha.” Virei a borracha e respondi: “não estou mais namorando o menino do XV. Eu aceito.” (mulher como sempre argumentando demais.). Não consegui mais me concentrar nas paroxítonas que a professora explicava e só sonhava.



Parte VII - a amizade

Na hora do recreio, ele veio até mim e minhas amigas e disse que estava namorando comigo também, que agora estava tudo certo. Sorteamos o dia de cada uma. Fiquei com a quinta-feira. Ainda era terça e tive que aguardar minha vez.



Parte VIII - Corra, Erika, Corra

Meu dia chegou e, logo na saída da sala para o pátio, ele já pegou na minha mão. Eu, nervosa não conseguia falar, nem fazer mais nada do que andar. Passei o recreio inteiro andando de mãos dadas pelo pátio. Ele queria parar, sentar, me abraçar e eu puxava e andava mais rápido ainda. .O recreio acabou e, praticamente corri para a sala, sem dar um pio.



Parte IX - o futebol

Na quarta, depois de ter namorado com todas cinco, ele não pegou na mão de ninguém. Reuniu todas as namoradas e informou que não queria mais namorar com a gente e que preferia aproveitar o recreio jogando bola com os amigos.



Parte X - a conclusão

Imagine se nessa época tivesse cerveja?

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A lua e eu


Era sonho que via?


Era a realidade que sonhava?



Sinto o cheiro da lua

Seu perfume aquece a minha alma

Sua luz canta os meus olhos



Entre figuras de linguagens

Os sonhos ficam ocultos

Entre o caminho sombrio

A lua ilumina meu desejo.



Quero a lua da minha janela

Quero seu sorriso em minha alma

Quero seu quarto, eterno crescente

E nova vontade de amar



Quero a minguante saudade

Presente no gosto da lembrança.

E minha alma pura e completa

Vivendo e lutando cheia de amor



Quero a lua do sol nascente

E assim receber o seu brilho



Quero a lua humilde e sedenta

Do sorriso de uma criança



Quero a lua em flor

No desabrochar da noite escura



Quero o sonho de um dia ser lua

E ter a sabedoria de ensinar as estrelas a brilhar



Quero apenas ser

lua e o mais puro luar.

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Inverno..........

Tem amores que adormecem na nossa mente, mas que com um simples gole de vinho renascem e nos faz se inebriar no mais puro sentimento de saudade. Lembro dele com um casaco claro, sorriso no rosto e fumacinha de frio saindo pela boca.

Não tenho a mínima idéia de como ele seria no verão. Acho que nem seria ele.

Os termômetros acusavam frio, mas, para  nós... era tudo tão tórrido.

Saíamos a pé pelas ruas da Lisboa Antiga, com o pretexto de um gole de vinho para nos esquentar. Chegávamos ao mesmo restaurante, à mesma mesa. No pedido, vinho sempre. Tomávamos uma garrafa depois uma garrafinha. Sempre a mesma medida.

A caminho de casa, e, de tanto calor, ficávamos a ponto de tirar o casaco e caminhar desprotegidos do vento cortante.

Agora, aqui, há muitos quilômetros de distância, em puro clima tropical, degusto o mesmo vinho que, elogiávamos o poder de esquentar. Conclusão: a bebida não esquenta do jeito que imaginávamos.

Tudo era uma desculpa tanto para degustá-lo quanto um disfarce para o calor que sentia um pelo outro.

Éramos feitos de inverno! Vivíamos para o inverno! Aquela estação tinha sido feita para nós e nada mais importava. Éramos realistas e isso bastava.

Agora, aqui, distante o suficiente, vejo que o vinho nem era tão bom assim e a composição perfeita era outra.

A primavera, então, começou a anunciar sua chegada e aquilo não era nosso. Aos poucos nos afastávamos. Quando dei conta, as flores tamavam conta da cidade e sozinha eu estava.

Então, o tempo passou, as estações mudaram e mais uma vez chegou o inverno em Lisboa. Sequer suportei tal ausência e vim para o calor dos trópicos. Nunca mais tomei aquele vinho. Só me restou saudade do que se esvaiu com a chegada das flores.

Prefiro, por vezes imaginar, que aquele inverno, tão especial foi um sonho e que, eu nem sequer conheci alguma pessoa com o seu nome, com o seu toque, com o seu carinho, com sua pele, com seu cheiro conheci. Sabe, é mais prático!

As flores nem sempre trazem alegria.

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©2009Erika Valença | by TNB