terça-feira, 2 de março de 2010

Novos rumos literários


Escrever crônica, poesia ou conto é pra mim mais do que um simples hábito, é algo que me completa e ajuda a ver as facetas com que a vida se revela, tudo sob uma ótica bem mais branda e até romântica.

Tudo começou com um simples concurso de poesia no qual fui classificada e lancei, com um grupo, selecionado pela Editora Mar de Idéias, meu primeiro livro. Depois veio o Bisaco – que é outra história. A parceria deu certo e, agora não mais por concorrência e sim por convite, participo de alguns títulos desta e da Editora Pensata. São eles: I Antologia poética, novos talentos, I antologia internacional de poesia, Antologia Nacional de Poesia Mares Diversos, Mas de Versos, Vozes da Alma e agora o II coletânea – Textos Seletos.

2010 começou bem! Parabéns as editoras pelo trabalho de qualidade!
Abaixo, meus textos que estão na II coletânea – Textos Seletos


O dono da chuva

Para mim, ele se chamava André. Nem gordo, nem magro, de mãos delicadas e sorriso aberto. Do outro lado da praça o observo e noto nos seus gestos o mais puro penhor de suas atitudes e afinidades. Em alguns momentos desabrocha um olhar triste e distante, como o de alguém que quer enxergar e não o tem ali na sua frente. Do outro, um desprendimento singular de criança que mete o pé na lama em dia de chuva propositalmente.
André nem imagina que cá escrevo para ele e nem sonha que a magnitude da sua vida pode ser o enredo para a simples crônica de alguém.

As nuvens começam a se unir e a formar uma grande massa cinzenta. Ele nem se move e permanece sentadinho ali naquele banco a observar os repentinos movimentos dos pombos. Penso eu, o que ele pensaria. O que existiria nas entranhas daquela alma completamente incógnita? Talvez nem ele soubesse, de fato.

De súbito, um pingo d'água cai do céu. Corro para me abrigar sem tirar os olhos do sujeito principal da oração. Ele permanece imóvel ali. Os pombos aos poucos se dissipam e buscam um teto ou até um galho para ser quebrado. André ali permanece com seu olhar fixo e grandioso diante do milagre da água.

A neblina dá espaço a fortes gotas que vêem para me molhar por um vento frio e calculista. Abrigo-me atrás de uma pilastra. André nem se importa e ali continua numa paz ensurdecedora.

Torrencialmente a chuva começa a cair. Hesito em sair para outro abrigo, mas me deixo paralisar quando vejo um movimento dele que bruscamente levanta-se, inclina a cabeça para trás e abre a boca. A chuva o invade completamente. Ele tinha sede, e sua vontade estava sendo saciada um gesto singular promovido pela natureza.


Diante da grandeza do que eu via e da exposição de necessidade de vida, uma lágrima minha confunde-se com os pingos de chuva. Quando vejo estou diante daquele estranho que me olha, segura minha mão e leva para o seu peito. Num tom tranqüilo e frugal, diz:


- Sinta a vida na palma da sua mão.


Eu ali, com a mão no seu peito, sinto seu coração bater num ritmo tranqüilo.


Diante do não entendimento da situação, tento correr, mas, seguramente desisto e sento no banco na espera que a chuva passe, que os pombos voltem e que o sol torne a brilhar.


Lisboa, 07/06/2008




Literalmente decidida


As mulheres, em sua grande maioria, têm a mania de estar numa busca inquietante do homem perfeito. E eles existem? Sim. Mas, não para todas. Um homem de porte viril, honesto, carinhoso, atencioso, calado, apartidário é mais raro do que um filhote de ararinha azul albina. Mas, existe.

Pouco se sabe, é que, com o passar do tempo, essa procura foi se "coisificando", chegando ao ponto do mulherio fazer opções de produto de mercado. Alerto: falo isso por mim. Encontrar alguém para chamar de meu amor está difícil. Não por ser exigente demais ou por achar que me falta algum atributo, pelo contrário. Já optei por uma sorte de rapazes que transitavam entre o estilo brega ao evangélico, fazendo escala nos metrosexuais, esquizofrênicos e horripilantes. Resultado? Nada.

Por isso, a partir de hoje, impulsionada pela vergonha alheia que senti ao ver aquela moça do Fantástico, desesperada, correndo atrás de contrair um matrimônio a todo custo, digo em alto e bom som que cansei. O que não implica em radicalizar. Se aparecer um alguém, claro que será de bom grado, mas a procura, a caça, a ida pra guerra? Exausta, parei.

E foi nesse processo de "coisificação" que embarquei. Agora, vou me dedicar à literatura. Nela, eu encontro tudo e mais um pouco. Se eu quiser um amor sem limites, acho em vários títulos de Eça de Queiroz. Uma simples paquerinha ou uma noite de azaração em Candace Bushnell. Traição, ou talvez apenas o seu mistério em Machado de Assis e para discutir a relação, são seria com outra pessoa se não com Clarice.

A leitura é, sem sombra de dúvidas, mais do que fantástica. Além de elucidar tantas questões, apresenta muitas vantagens, como: está sempre com você, quando você não tem interesse ou está com dor de cabeça, não reclama se cala e consente. Não fala que sua bolsa é muito grande, até prefere e até acha mais confortável, não se incomoda em ver você com um creme verde abacate no rosto, como também permite que fique o tempo indicado no pote sem fazer careta, nem ri de você.

Quanto ao outro lado, adora longas preliminares, permite desbravar a delicadeza das orelhas sem sentir cócegas e achar ruim, permite o aprofundamento mais íntimo do cheiro das suas páginas. Dorme sem roncar. E o melhor de tudo, não precisa ligar no dia seguinte pois ao despertar, ele - o livro- já te olha sorrindo e pronto para ser devorado mais uma vez.

4 comentários:

Erika Valença de Lucena disse...
Este comentário foi removido pelo autor. 4 de março de 2010 às 09:00
Erika Valença de Lucena disse...
Este comentário foi removido pelo autor. 4 de março de 2010 às 09:02
Erika Valença de Lucena disse...
Este comentário foi removido pelo autor. 4 de março de 2010 às 09:02
Erika Valença de Lucena disse...

Quem tiver problema em postar um comment nesse espaço, pode enviar para o meu email: ericota25@gmail.com Obrigada!

4 de março de 2010 às 09:03
 

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